A Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), divulgada pela CNC, revela uma nova dinâmica no comportamento financeiro das famílias brasileiras: o endividamento segue crescendo, mas sem agravar a inadimplência. Um cenário que, embora complexo, traz sinais de maior controle financeiro por parte dos consumidores.
Em março de 2025, 77,1% das famílias declararam possuir dívidas, sendo o maior índice desde setembro do ano passado. Cartão de crédito segue como o vilão — ou aliado — de sempre, utilizado por 83,7% dos endividados. Carnês aparecem em segundo lugar, reforçando seu protagonismo nas compras parceladas.
Apesar da alta, o número de famílias que se consideram “muito endividadas” caiu para 16%, e o total que afirma não ter dívidas também reduziu. O perfil do endividamento se equilibra, com mais gente assumindo dívidas de curto e médio prazo.
A boa notícia: a inadimplência está estável (28,6%) e o número de famílias sem condições de pagar contas atrasadas recuou para 12,2%, uma queda pelo terceiro mês consecutivo. Além disso, diminuiu o número de consumidores com dívidas em atraso por mais de 90 dias, o que pode indicar uma tentativa de reorganização das finanças pessoais.
Outro ponto interessante: o tempo de comprometimento com dívidas de longo prazo (acima de um ano) caiu para 34,4%. Isso mostra que os consumidores estão buscando quitar dívidas mais rapidamente, mesmo diante de taxas de juros ainda elevadas.
A CNC aponta que parte desse novo endividamento tem sido usada para renegociar e quitar dívidas antigas, e não necessariamente para o consumo imediato. A intenção de consumo das famílias, inclusive, caiu em março, especialmente na compra de bens duráveis — sinal de que o crédito está sendo usado com mais cautela.
As projeções indicam que até o fim de 2025, as famílias devem estar mais endividadas (+2,5 pontos percentuais), mas menos inadimplentes (-0,7 pontos percentuais). O novo programa de crédito do governo pode acelerar esse movimento, exigindo atenção dos consumidores.
O brasileiro continua dependente do crédito, mas parece estar aprendendo a lidar melhor com ele. O aumento do endividamento não é, neste momento, sinônimo de descontrole — e sim, de uma tentativa de reorganização. Se o acesso ao crédito continuar estável e os juros não subirem agressivamente, 2025 pode marcar uma virada positiva na relação do consumidor com as finanças pessoais.
Diante do crescente papel que o crédito desempenha na economia brasileira — especialmente o crédito voltado ao consumidor — torna-se cada vez mais essencial o acompanhamento atento dos indicadores da PEIC. Esses dados fornecem um retrato fiel da saúde financeira das famílias e funcionam como termômetro para prever o comportamento do consumo nos próximos meses.
Afinal, compreender como os brasileiros estão utilizando o crédito, quais dívidas estão assumindo e como estão lidando com os pagamentos atrasados permite antecipar tendências e planejar políticas públicas e estratégias empresariais com mais precisão.