Por muito tempo, a saúde no ambiente de trabalho foi tratada como uma questão essencialmente
física. A ideia de segurança se resumia a capacetes, EPIs e normas técnicas. Mas os tempos
mudaram — e, com eles, a visão sobre o que realmente significa proteger o trabalhador.
A mais recente atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), publicada em agosto de
2024, marca um divisor de águas. Pela primeira vez, o Ministério do Trabalho exige das empresas
brasileiras um compromisso formal com a saúde mental de seus colaboradores, integrando os
riscos psicossociais no Programa de Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (PGR).
Essa mudança reflete uma tendência global: segundo a Organização Mundial da Saúde, o Brasil
é o país com maior prevalência de transtornos de ansiedade no mundo. Ignorar esse dado é
fechar os olhos para um problema que custa caro — em afastamentos, queda de produtividade e
rotatividade de pessoal.
Agora, as empresas precisam ir além da prevenção de acidentes visíveis. Estresse, assédio moral,
sobrecarga de trabalho, burnout e até liderança tóxica passam a ser considerados riscos
ocupacionais, com o mesmo peso que um fio desencapado ou um produto químico mal
armazenado.
A nova NR-1 exige que essas questões sejam mapeadas, documentadas e gerenciadas com
clareza. E mais: os trabalhadores devem participar ativamente da construção de um ambiente
laboral mais saudável. Isso significa ouvir, acolher e agir.
Adequar-se às novas exigências exige planejamento e mudança de cultura. Não se trata apenas
de cumprir uma norma, mas de enxergar que investir em bem-estar traz retorno: retenção de
talentos, clima organizacional positivo e mais produtividade.
As empresas que já possuem sistemas de gestão de qualidade, como a ISO 9001, têm vantagem
— mas ainda assim precisarão adaptar seus processos para incorporar essa nova dimensão do
risco. Criar canais de escuta, revisar códigos de conduta, capacitar gestores e monitorar
indicadores de saúde mental são passos fundamentais.
A atualização da NR-1 é uma oportunidade. Não apenas de cumprir a lei, mas de construir
ambientes de trabalho mais humanos. Para o empresariado amazonense, o desafio está lançado:
alinhar-se às melhores práticas internacionais e colocar a saúde mental como prioridade
estratégica.
Porque no fim das contas, cuidar de quem cuida do negócio é, também, cuidar do próprio
negócio.